Edição e diagramação

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Conto Místico - A Morte do mestre

(O Mestre de Si Mesmo)

Movimento Eterno

Harmonia e equilíbrio
Renascimento e morte

Frente à cova, olhava no fundo, o mestre. Enrolado no manto sagrado, coberto de símbolos que representavam sua vida e sua fé. Entendia o sagrado do manto, e entendia o símbolo que estaria usando qualquer dias desses, igualmente estirado em uma cova rasa, se tanto. Poderia cair ao largo, e coisas que se movem no escuro sorrateiramente, o devorariam em pedaços.
Alguns parentes pranteavam a sepultura sem vida, enquanto pás esperavam o momento de cobrir a morte com terra.
Pupilo, no pé da cova, acredita que todos querem logo se livrar da visão da morte. Seguidores e admiradores, e outros que anelam suas curas a conversas com o Mestre, olham em silêncio.
O vento sopra nos bambus, arrastando folhas secas por sobre outras covas, pequenos muchões que se elevam dois palmos do chão. As montanhas azuis prenunciam que o outono será forte, um frio denso já baixa para a planície, à distância, a sombra da grande montanha fica a cada dia maior no pôr do sol. O lago abaixo na planície, que fica a meia montanha, o grande lago negro, faz mosaicos em tons rosa. Outros ascetas, companheiros do Mestre, começam a retirar os familiares lamuriosos.
Os coveiros iniciam seu trabalho. Devagar, e com algum respeito vão jogando pás de terra sobre o corpo. Pupilo permanece de pé, aos pés do Mestre. Toda a sua vida ouviu o mestre, conhecia cada pensamento e conceito que lhe foram ensinados como verdades irrefutáveis. A boca que libertava verdades se cala e será consumida pela terra. As habilidades medicinais e marciais do mestre, avalizavam sua fé e sua crença. Mas, embora muitos viessem buscar alívios para suas dores e aflições, nenhum está interessado nas verdades e descobertas da vida, conquistadas pelo mestre. Coisa que agora não faz mais nenhuma diferença, o mestre está morto. E ainda que haja vida para depois desta cova, eles ainda sofrem, estão vivos e sofrem.
A terra agora cobre o morto. O mestre lhe dava conselhos e lhe dizia o que fazer. O encontrara órfão e pequenino à beira da estrada e não o deixara mais. Levou-o pra casa e o tratou como a um filho, que, como asceta, jamais, poderia ter. Ensinou a ser forte, a suportar o difícil, a conhecer plantas que curam, a sonhar acordado, a saber que esta sonhando, e morrer e voltar da morte. Se havia mais verdades a dizer não disse por considerar Pupilo despreparado, por que parece que tudo foi dito, ou antes parecia, agora diante da cova e o corpo já coberto de terra, um vazio e uma ansiedade brotavam no seu peito e na sua mente. Um vazio que parecia forçar seu espaço esmagando contra uma parede invisível, as verdades que zelava sem descanso. Por que, no final de todas as verdades vem a morte. E essa é a angústia das gentes, não têm medo das dores, têm medo da morte. Os conceitos de Pupilo pareciam de desgrudar das paredes de sua mente e pareciam se chocar uns contra os outros, se despedaçando e colando com outros conceitos, formando idéias despedaçadas.
Por toda sua vida seguiu o mestre onde quer que ele fosse, não poderia segui-lo agora. Não agora. Agora teria que seguir sozinho. Sem mestre para seguir, ou para dizer aonde ir.
Os coveiros terminam seu trabalho. Olham para Pupilo, o único ao pé da cova, e vão sem dizer palavra. Sem mestre. A Morte era o fim do aprendiz e o nascimento do mestre. Considerava que era de si mesmo o mestre a partir de então.
Virou as costas para a cova e seguiu para o alojamento. Enquanto seus conceitos se despedaçam, sua mente parecia sorrir taciturnamente. A morte é a primeira e última grande lição na vida de um Homem.